Me encanta bastante a obra de um artista plástico mineiro chamado Ricardo Ferrari, em especial suas pinturas da série Quintais, em que retrata crianças brincando em quintais de Belo Horizonte, MG. Seus desenhos nos transportam para uma época em que as casas não eram tão muradas, como hoje, onde a brincadeira, talvez não encontrasse tantos limites. Corda, boneca, peão, bambolê, bolinhas de gude e até cavalo de pau. Em meio a brinquedos, vemos crianças, cachorros e galinhas, todos animais criados soltos espalhadas sob o chão de terra. No céu, voam papagaios de cores variadas (falo daquele brinquedo quadrado, que o menino empina com a ajuda do vento.
Poderia foram linhas e linhas escrevendo sobre cada um dos quadros e o quanto eles aquecem meu coração. Me fazem lembrar da minha infância, da época em que pude brincar com quase todos esses brinquedos, no prédio onde cresci.
Resolvi trazer, então, algumas dessas imagens do brincar pro meu consultório. E até hoje me impressiono com os comentários dos pacientes sobre como cada um deles é particularmente afetado por elas.
Das perguntas mais comuns, querem saber se atendo crianças, outros pegam carona com lembranças de infância, alguns se lamentam por não terem podido brincar, mas todos são convidados a olhar com carinho para essa época.
A infância é o nosso ponto em comum, todos tivemos, uns para mais, outros para menos. E nessa época temos um olhar sensível, inocente, de encantamento, que vamos encaixotando, junto aos brinquedos, quando crescemos.
Criança interior é um conceito, uma imagem ou um nome que usamos para aquela criança que fomos, mas que ainda somos, para uma parte da nossa personalidade, algo que está sempre em crescimento e que solicita cuidado, atenção e amor.
Acontece que essa nossa criança interior pode carregar feridas. Feridas são os traumas da infância, marcas de negligências ou abusos, abandonos, tudo o que poderia ter sido e não foi. São as coisas que fazem as pessoas adoecer, as faltas e os exageros que influenciam a vida adulta, impossibilitam os relacionamentos e levam as pessoas a buscar terapia.
Há também uma parte dessa mesma criança que é saudável. A ela chamamos de criança dourada, criança maravilha, criança saudável. Quando restabelecemos o contato com ela, quando passamos a ouví-la, passamos a nos escutar nas nossas necessidades ou carências mais primitivas, nos reconectamos com a nossa potência criativa, divertida, espontânea e portanto, com uma vivência mais saudável.
Fiz um acróstico pra explicar as características de cada parte da criança interior:
Um dos primeiros teóricos a utilizar esse nome, foi Jung. Em seu ensaio sobre “A Psicologia do Arquétipo da Criança”, disse que a imagem da criança “representa a mais poderosa e inelutável ânsia em cada ser humano, ou seja, a ânsia de realizar a si próprio”.
Ele tem uma outra frase que explica o motivo principal de nos reconectarmos com a nossa criança interior: “Uma das principais tarefas do caminho da individuação é nos tornarmos boas mães e bons pais de nós mesmos.”
“Para cada criança interior, cheia de medo e procurando abrigo no mundo adulto, existe um adulto potencialmente capaz de assumir responsabilidade por esta criança. Ao tornarmos consciente o conteúdo das projeções estamos dando um grande passo em direção a emancipação da infância.” (James Hollis)
Sejam bem vindos ao meu site. Espero que com esses pequenos textos, possamos construir pontes, que permitam o encontro de cada adulto com sua criança interior, através da psicologia.
Com carinho, Andressa Dorothea.
@psidacriancainterior
➿🦋➿Você p̶r̶e̶c̶i̶s̶a̶ merece cuidar de si!
Ficou curiosa sobre as obras do artista que pinta a infância?
Assista ao vídeo abaixo e saiba mais sobre a história de Ricardo Ferrari e seus Quintais: